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segunda-feira, 3 de março de 2008

Apenas um retrato na parede...

Simone olhou-se no espelho. Aos 35 anos era uma mulher espetacular, daquelas de parar o trânsito. Mas ela estava só, irremediavelmente só. Retocou o batom. Ajeitou a leg. Comprimiu os lábios e voltou a olhar-se no espelho. A roupa combinava. Os sapatos idem. Mas faltava alguma coisa, lembrou-se, pegando a bolsa sobre a cama. Conferiu se o celular estava carregado (ah! essas baterias!) e saiu. Já no corredor surgiu uma outra Simone. Esvoaçante, sorridente, envolvente mesmo. Olhou mais uma vez o relógio. Estava adiantada. (Não faz mal, disse pra si mesma) e prosseguiu chamando a atenção de motoristas, passantes, comerciantes, bancários e alquimistas. Não se conteve e soltou uma gargalhada quando um taxista brindou-a com um "poderosa"! Chegou ao destino, o mesmo barzinho de Laranjeiras onde conhecera Augusto. Conferiu novamente a hora: 19h30min. Estava adiantada, havia marcado às 20 horas. Ela pediu uma dose de Bacardi, depois outra, e outra e outra. Quem entrava, quem saía, o dono do bar (que já a conhecia) todos a olhavam, todos ansiavam por um sorriso, a correspondência aos seus anseios. O tempo passava e nada de Augusto. Até que lá pelas 21h30min o celular tocou. Era Augusto. "Não vou!" Ela não conseguiu responder. De forma automática levantou o braço pedindo a conta ao garçom. Passou o cartão. Levantou-se e saiu! Era mais uma noite quente no Rio. Ela chamou um táxi e voltou para casa. Não sem antes causar um alvoroço à porta do bar, onde todos procuravam o melhor ângulo para olhá-la e, quem sabe, roubar-lhe um olhar cúmplice. Ela não viu a paisagem no caminho até a Barra. Entrou no amplo apartamento que lhe coubera na partilha dos bens de sua separação de Augusto. Ela ainda o amava e tinha uma idéia fixa: matá-lo! Se não fosse seu, não seria de mais ninguém. Já perdera a conta dos inúmeros encontros marcados com Augusto. Ele faltara a todos. Ela só queria que ele comparecesse a um. Iria matá-lo e matar-se em seguida. Ela não se importara com a separação, não quis ficar com os filhos e garantiu uma pensão que lhe garantia o conforto. O que ela não perdoava é que Augusto a trocara por uma mulher de cintura roliça, cabelos curtos mal cuidados, feia mesmo! Despiu-se, olhou-se no espelho e, automaticamente, desviou o olhar para o retrato que mantinha na parede. Ela Augusto e o casal de filhos. Simone não perdoava Augusto porque a sua fortuna a cada dia aumentava e ele não se importou quando ela se envolveu com um policial, ou com um procurador da Justiça, nem quando posou nua para uma revista. Ele já não se importava! Olhando para si no espelho e para Augusto no retrato na parede, Simone compreendeu que odiava Augusto porque ele a tornara invisível.

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O guardião do espaço...

O guardião do espaço...
No meu local de trabalho num dos raros momentos de calmaria. O clik é do companheiro Claudionor Santana

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Jornalista e escritor, com passagens por jornais como Última Hora, Jornal do Commercio, O Dia e O Globo, atualmente sou Assessor de Comunicação do Sintergia (Sindicato que representa os trabalhadores do Setor Elétrico do Rio de Janeiro).