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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A ditadura midiática apoiada pelo STF e o Congresso

Foram anos de luta até conquistarmos a Constituição de 1988 e com ela a volta das eleições diretas e o direito sagrado do povo escolher seus representantes. Mesmo assim, tivemos que engolir a eleição indireta de Tancredo e, pior, a sua substituição por José Sarney, que ao negociar com o Congresso de então a extensão de seu mandato por mais um ano, traçou o mapa das comunicações no Brasil, "doando" ao PMDB a primazia de rádios e TVs por todo o Brasil, o que explica que este partido mantenha por anos a maior bancada do Congresso. Mas o trato de "compadres" foi mantido até que Lula foi eleito e com ele a idéia fixa de erradicar a fome em nosso país e tirar mais de 30 milhões da linha abaixo da pobreza, em outros termos, da miséria. A partir daí, os ex-senhores de escravos, latifundiários e empresários das benesses estatais começaram a tramar uma maneira de tirar Lula do Poder e, com a eleição e reeleição de Dilma Roussef, de ferir o PT de morte, impedindo, a qualquer preço, uma possível volta de Lula ao Poder. Apesar da resistência da sociedade, que com atos, passeatas, ocupação de escolas e ação pelas redes sociais, a mídia, o Congresso e até o STF se aliaram contra o povo e estão impondo uma ditadura que já ultrapassou as mentiras de jornais, rádios e TVs até chegar à truculência contra alunos que lutam por uma Educação de qualidade enquanto Eduardo Cunha foi conduzido "carinhosamente" pela polícia. Somos um País ávido por crescimento, enquanto aquela "coisa" com a faixa presidencial trama o congelamento dos investimento em Educação e Saúde pelos próximos 20 anos. E esse "coisa" fala sério, julga-se um estadista e arrasta o país à galhofa mundial, precedido por José Serra, que não se cansa de expor o País ao escárnio por onde passa. Em pouco tempo no Planalto, esse "coisa" com seu ministério formado por um monte de gente com contas a ajustar na Justiça fizeram o País retroceder décadas e o povo, mais uma vez, vai pagar a conta, por atos de um bando de desajustados que estão entregando o País para os EUA, traindo a Pátria e seus compatriotas.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

É matar ou morrer

Por Alberto Dines O brasileiro acordou num país mais azul, sem zonas vermelhas, que ecoa até hoje o silêncio do povo nas urnas , a maior abstenção desde 1996. Um país que se reinventa sob uma nova direção que só promete espinhos na reformulação econômica. Nem dá para chiar porque o inverso seria o caos. É matar ou morrer , aguentar ou correr, adaptar ou berrar no vazio . Acordamos noutro Brasil , este país varreu a mão que embalava o berço , só que em direção ao precipício. Ganhou punhos de ferro como alternativa e só pode apostar que em quatro, cinco anos , a estratégia vai dar certo. Nada explica a rejeição de 65% de Temer pelos brasileiros , já que o contrário levaria ao padrão falido da economia venezuelana. E Temer diz que nem liga para índices de popularidade porque, segundo ele , não é candidato a reeleição. Está mais preocupado em passar no plenário a PEC que limita os gastos públicos nos próximos 20 anos. João Doria vai encolher as ciclovias de Fernando Haddad sobre as calçadas de São Paulo, e privatizar alguns símbolos da cidade, o estádio do Pacaembu, o autódromo de Interlagos e o sambódromo junto com o Parque do Anhembi. Garante que vai arrecadar R$ 7 bilhões a serem encaminhados para Saúde e Educação. Já lançou o presidente do PSDB para 2018, o governador Geraldo Alckmin, seu padrinho. Como dizia o slogan de sua campanha, o João é trabalhador e quer repetir a façanha do prefeito milionário que governou Nova York entre 2002 e 2013, Michael Bloomberg. A torcer para dar certo na vida real as promessas feitas por quem fez a carreira na TV apresentando um “reality show”. O PSDB elegeu 46% dos seus candidatos a prefeito , sinal de que o banco traseiro ocupado pelo PT e o PMDB vai ficar quase vazio. A cúpula dissidente do PSDB foi a que mais cresceu num partido rachado e tenta se reunificar. Enquanto Alckmin quer aumentar sua influência , o presidente do partido Aécio Neves – que viu sua carreira presidencial ameaçada com a ascensão do recém-chegado João trabalhador – admite o racha , dilui o efeito Doria e tenta passar a impressão de que o mérito da guinada foi dele. Fica clara a falácia dos partidos, a desconfiança aos políticos, a revolta surda da população que permanecerá apática nas próximas semanas à espera do que está por vir . A incógnita carioca Agora os olhos se voltam para a disputa dos Marcelos no Rio, Crivella e Freixo. Sem paciência para ideologias como aconteceu em São Paulo – onde até a periferia castigou a esquerda e elegeu o que a cidade chama de ” mauricinho” contra o descontraído Haddad – o brasileiro aguarda o segundo turno das eleições no Rio de Janeiro, no próximo dia 30. O economista carioca Sergio Besserman tem razão quando diz que Doria nunca seria eleito no Rio de Janeiro que é o avesso de São Paulo, detesta formalidades e as griffes do prefeito paulista eleito. Mas qual será a cara do Rio com o novo prefeito? O Rio , se o PSOL de Freixo vencer, pode ser uma saída para a minguada esquerda brasileira depois do duelo com o partido da Igreja Universal do Reino de Deus. Sem perder tempo , Freixo se aproxima dos líderes religiosos. Será um segundo round animado, já que ambos buscam neste meio tempo apoios contra e a favor do Planalto . As esperanças estão depositadas nos votos cariocas da centro-direita, laica ou não. Freixo, que com minguados 11 segundos de TV derrotou o PMDB de Eduardo Paes, Pezão e Sergio Cabral, pode dar um ao PT embora o PSOL não se equipare ao partido de Lula. Agora Freixo terá 20 minutos no ar. Freixo foi afetado em cheio pela decisão do TSF garantindo que condenados em segunda instância podem ir para a cadeia , o que torna Lula preso em potencial pelo Lava Jato, além de investigado em outros três processos. A decisão arrasta parte do poder do governo Lula-Dilma. O resultado veio rápido. Apareceu na última pesquisa DataFolha, Crivella na frente com 44% dos votos, contra 27% de Freixo, que vai cair de boca nos 18% de votos nulos e brancos, e nos 10% de eleitores que não responderam. Dá para perceber que o Rio segue a norma eleitoral, no primeiro turno o eleitor escolhe, no segundo, rejeita. Agora depende dos votos dos conservadores contra os não conservadores. Enquanto caçam os votos úteis -e os inúteis, anulados – Crivella finge se descolar da Igreja do bispo Macedo e de Garotinho , e ameaça dar ao Rio o governo da vitória da religião num evidente vale tudo da desacreditada política nacional.

Giro à direita no Brasil. Por quanto tempo?

Por Tereza Cruvinel, em seu blog: O prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella, resumiu sua vitória como um sonoro “não” da cidade tida como mais progressista do Brasil às bandeiras do aborto, da legalização das drogas e do ensino sobre diversidade sexual nas escolas. Ele de fato as combateu, mas não foram estas as bandeiras centrais de seu adversário Marcelo Freixo, do PSOL, no segundo turno. O que sua vitória simboliza é a conclusão da guinada do Brasil à direita, num giro sem precedentes depois da redemocratização, e que no primeiro turno teve na vitória de João Dória em São Paulo seu sinal mais eloquente. Não só dos caminhos que a esquerda seguir para se recuperar do tombo dependerá a duração deste ciclo, em que o Brasil será um país bem diferente. A partir de janeiro a direita estará governando o país e a maioria dos municípios, e de seus resultados dependerá a duração deste ciclo. A vitória de Crivella é ainda mais expressiva do giro conservador porque não expressa apenas a força de uma direita ideológica, amiga do mercado e hostil ao Estado, chegada a privatizações e à ortodoxia fiscal. Crivella é a expressão da força crescente das religiões evangélicas para além dos templos. É expressão do conservantismo moral que demoniza a diversidade do comportamento humano em diferentes aspectos, estigmatizando como pecadores e aliados do capeta os que não comungam de seus mandamentos. “Chora capeta”, foi como o pastor Silas Malafaia festejou a vitória de Crivella. Capeta são todos os outros, todos os derrotados, e especialmente, nas palavras dele, os “esquerdopatas”. A Igreja Universal controla a segunda maior rede de televisão e as outras ramificações dominam quase todos os canais abertos a partir de certa hora da noite. É só zapear e lá estão os pastores das seitas que alugam horários nas outras emissoras para suas pregações. Fortalecida pela vitória de Crivella, a direita moralista retomará os projetos que vinha tocando no Congresso, que incluem o fim da autorização do aborto em casos excepcionais, a rejeição de medidas contra a homofobia e de propostas de políticas alternativas sobre drogas. E ainda o avanço do projeto “escola sem partido”, que já teve uma primeira acolhida na reforma do segundo grau do governo Temer, ao tornar opcionais matérias que levam à formação crítica dos alunos, como filosofia e sociologia. Mas a direita, assim como a esquerda, tem matizes diversos e todas eles colorem o novo mapa ideológico do Brasil. No segundo turno, para ficar só em capitais importantes, ela venceu em Porto Alegre com Marchezan Júnior, filho de um líder do PDS na ditadura militar; com um “out sider” adepto da antipolítica em Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PHS; com a eleição em Curitiba de Rafael Greca, aquele que declarou tem tido vômitos após carregar um pobre em seu carro. No primeiro turno, além da vitória de Doria na capital paulista, o mais votado foi ACM Neto em Salvador. Onde foi que isso começou? Foi com a destruição moral do PT pela Lava Jato ou pela crise econômica que, originária do final do boom das commodities, foi inteiramente debitada a erros de gestão do governo Dilma? Ou foram as duas coisas? Se apenas o PT tivesse sido surrado nas urnas como foi, o eleitorado estaria apenas usando o voto como castigo contra quem considera culpado. Mas toda a esquerda saiu derrotada, inclusive sua maior promessa neste pleito, Marcelo Freixo no Rio. A Rede mostrou que a nada veio, o PDT cresceu um pouquinho, o PCdoB foi castigado por sua aliança histórica com o PT. O PSB já atravessou o rubicão. O vento da direita não é apenas brasileiro, é continental, se não global. Ele sopra em toda a vizinhança onde os governos de centro-esquerda, no tempo das vacas gordas, acharam que bastava garantir o consumo e a renda para fidelizar o apoio das classes populares. Não ousou fazer reformas no sistema político e tributário, não ousou regular a mídia (exceto na Argentina) nem disciplinar os capitais nômades. E, sobretudo, desprezou a necessidade de educar politicamente o povo, que na primeira adversidade lhes voltou as costas. Quanto tempo vai durar? Vai depender de como o PT conseguirá se reinventar, de como ele e os outros partidos de esquerda vão se relacionar com vistas ao futuro. Está claro que sem alguma unidade será mais difícil vencer o cerco. Mas a duração do retrocesso dependerá, sobretudo, de quais serão os impactos destas administrações conservadoras sobre a vida real dos brasileiros. No governo do pais, está cada dia mais claro que a gestão Temer trará sacrifícios e não bonança. A dureza não será passageira, está prometida para 20 anos. O congelamento do gasto público diz que ninguém deve esperar do governo federal “bondades” como as dos governos petistas, que teriam custado caro. Mas as prefeituras estão bem mais perto dos cidadãos, que a elas se apegam mais na solução dos problemas imediatos. Estão todas falidas e esperando algum socorro do governo federal, que não virá. Até onde a vista alcança, serão administrações de poucos resultados ou então serão irresponsáveis, o que levará a um descalabro ainda maior. É sobre estes resultados, e avaliando corretamente as razões da derrota, que a esquerda deve se preparar para o novo tempo.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Cariocas não querem nem Freixo nem Crivella

Abstenções, nulos e brancos decidiram eleições no Rio... Somados, votos em branco, nulos e abstenções atingiram 2.034.352 sendo decisivos para o resultado final. Segundo turno é aquela velha, cansativa e infeliz história. Nem os votos atingidos pelo protegido do inominável Edir Macedo, nem os votos recebidos por Freixo são reais. Crivella se aliou ao que há de pior na política do Rio e contou com a pressão psicofundamentalista dos pastores para vencer. Já os votos do candidato do Psol vieram daqueles que repudiam o outro candidato. Quem perdeu nessa história toda foi o Rio de Janeiro. O "vencedor", definitivamente, não tem a cara do Rio e espero não assistir ao aumento geométrico dos templos da IURD em detrimento das escolas já tão abandonadas na cidade.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A triste sina do Rio de Janeiro

A garotada até 18 anos pode não acreditar, mas o Rio de Janeiro já foi a "Capital Cultural" do País. Ah! O Rio já foi, também, a capital da República, abrigando senadores, deputados federais e o presidente da dita cuja. Desde 1960, quando a capital foi transferida para Brasília, o Rio entrou em decadência e só tem a cantar em prosas e versos suas belezas naturais. No mais, é lamentar o empobrecimento cultural da nossa população com as greves anuais do magistério (que em média duram seis meses), a dilapidação do patrimônio público (exemplos são a derrubada do Palácio Monroe e as consecutivas reformas do Maracanã, ambas com o dinheiro da população empobrecida), a escalada cada vez maior da violência diante de governantes ou incompetentes ou comprometidos até o pescoço com a mesma. Em 2016, estamos sendo submetidos a um segundo turno para escolha do prefeito em que o que predomina é a baixaria e o "tudo pelo poder". Nenhum dos dois candidatos tem proposta pra nada. A cada dia o nível das baixarias aumenta, com acusações que beiram o desvario e desiludem quem ainda acredita no papel da política como representante da população. Mais uma vez vou pras urnas com a opção entre o impensável e o menos ruim. É barra ser eleitor no Rio de Janeiro.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Pesquisa recupera memória de jornalista negro e líder sindical

Diante das novas relações de trabalho que se estabeleceram após a abolição da escravatura (1888), surgiram mecanismos de organização, nos quais operários de fábricas e de oficinas passaram a se aglutinar, visando a prestar ajuda mútua aos associados em diversas situações, como doenças, prisões e morte. Nos primeiros anos da Primeira República (1889-1930), o operariado brasileiro vivenciava uma dura realidade, em sua rotina de trabalho, a exemplo de jornadas exaustivas, locais insalubres, crianças e mulheres exploradas nas fábricas. Dentro deste contexto, despontou uma militância sindical com importantes lideranças, lutando pela construção de uma sociedade mais justa e com menos desigualdades. É nesse período de ebulição de ideias e de contestação, sob a bandeira dos ideários anarquistas e socialistas, que desponta, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a notável figura do mulato Francisco Xavier da Costa (187? -1934). Nascido na capital gaúcha, na Colônia Africana, era filho do baiano José Pereira da Costa e da gaúcha Carolina dos Reis Costa, destacando-se em sua trajetória como gráfico, jornalista e militante socialista. As ideias marxistas foram introduzidas, no meio operário, devido à sua atuação. No importante jornal socialista A Democracia, fundado por ele em 1905, na edição de 20 de agosto de 1905, p.1, este líder operário registrou:franciscoxavier-dacosta democrcia “Filho de pai operário e de mãe pobre como ele, quando compreendi isto tornei-me nobremente orgulhoso.” Ainda em seu jornal, na mesma data, p.p. 1-2, ele escreveu: (…) “Sou um pobre operário e acentuo ainda uma vez, orgulhoso disto: sou um simples trabalhador que convencido de que se cabem deveres ao proletariado cabem-lhe, igualmente, direitos e tais direitos são sonegados – luta por todos os meios ao seu alcance, com pena e com a palavra impressa e na tribuna, contra a iníqua usurpação do poderoso capitalismo e contra as legiões de outros exploradores que engordam à custa do sacrossanto suor dos pobres que de fato trabalham.” Em sua pesquisa documental, diante de desencontros de datas quanto ao nascimento de Francisco Xavier da Costa, o historiador Benito Bisso Schmidt, em sua tese “O Patriarca e o Tribuno: caminhos, encruzilhadas, viagens e pontes de dois líderes socialistas – Francisco Xavier da Costa (187?-1934) e Carlos Cavaco (1878-1961)”, defendida, em 2002, na Unicamp, registra na p.37: “Esta história começa em Porto Alegre no dia três de dezembro de um incerto ano da década de 1870. No seio de uma ‘família muito unida’, nasceu Francisco. A expressão ‘família muito unida’ é creditada a Anita Xavier da Costa – filha de Francisco Xavier da Costa – durante a entrevista que se realizou no período de sua pesquisa. No caso da carteira de identidade, de 27 de abril de 1917, e no título de eleitor, de 14 de fevereiro de 1922 e de 4 de abril de 1933, a ‘cútis’ do líder operário é definida como ‘parda’ e o ano de seu nascimento é registrado como 1873.” Infância e militância Quanto à infância de Francisco Xavier da Costa, sabe-se muito pouco. Ao ficar órfão de pai, os problemas financeiros o levaram a buscar um trabalho para ajudar no sustento da família. Aos 11 anos, empregou-se na Oficina Litográfica de Emílio Wiedmann e Domingos Cândido Siqueira na condição de ajudante de tipógrafo. Após cinco anos, ele ascendeu ao cargo de perito oficial gravador. De acordo com o pesquisador e jornalista gaúcho João Batista Marçal, da cidade de Quaraí, o contato com imigrantes alemães e a assimilação do idioma teuto assumiriam um papel importante na vida de Francisco Xavier da Costa, tanto no aspecto profissional quanto em sua vida pessoal. Diante do trabalho conquistado, com muito esforço, ainda tão menino, Francisco Xavier da Costa abandonou seus estudos nos Colégios Cabral e VillaNova. Há indicação de que teve aulas noturnas com o professor Inácio Montanha, tendo então adquirido o cabedal de conhecimentos que atesta a qualidade da sua produção textual em periódicos da época. A partir da última década do século 19, ele se inseriu no incipiente movimento operário gaúcho, tornando-se o porta-voz das ideias socialistas na capital. Dominando o idioma alemão, foi o introdutor das ideias marxistas entre os operários de Porto Alegre. Em sua atuação política, participou da fundação de partidos operários e de associações profissionais e organizou congressos de operários, além de liderar greves. Francisco Xavier da Costa defendia a formação de partidos operários que elegessem seus representantes no embrião da própria classe de trabalhadores, priorizando a emancipação do proletariado e a luta por melhores condições de vida. Em 1892, ocorreu pela primeira vez no Brasil o ato de Primeiro de Maio, “Dia do Trabalho”, reunindo a massa operária na Praça da Alfândega em Porto Alegre, direcionado por anarquistas. Em 1894, fundou-se, em Porto Alegre, o Grupo dos Homens Livres, que congregou anarquistas, sendo grande parte de origem italiana. Fundado em 1º de maio de 1897 por Francisco Xavier da Costa, o Partido Socialista Rio-Grandense tem suas raízes no processo de formação da classe trabalhadora gaúcha. No ano de 1898, organizou o 1º Congresso Operário do Rio Grande do Sul. No dia 5 de fevereiro de 1898, na Capela São Manoel, em Porto Alegre, é celebrado o casamento da austríaca Leopoldina Schacherslehner e Francisco Xavier da Costa e desta união nasceram seis filhos. Em 1º de maio de 1905, começou a circular, sob a responsabilidade do líder socialista Francisco Xavier da Costa, o jornal A Democracia e o partido passou a ser denominado de Partido Operário Rio-grandense, cujo lema era “Para que o operário seja independente, deve conquistar todo o produto de seu trabalho”. As lideranças e a imprensa No ano seguinte, em 1º outubro de 1906, ocorreu a primeira greve geral no Rio Grande do Sul, conhecida como a “greve dos 21 dias”, que reivindicava, entre outras coisas, oito horas de trabalho e contou com a participação de mais de 5.000 operários. O intendente municipal (prefeito), nesse período, era o engenheiro José Montaury (1858-1939) e o presidente do estado era o advogado Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961). A greve iniciou com a categoria dos marmoristas, cuja liderança era anarquista. Neste contexto, destacou-se outro nome, cujo “verbo de fogo” incendiou a classe trabalhadora. Trata-se de um dos grandes tribunos da luta operária no Rio Grande do Sul: Carlos Cavaco (1878-1961). Francisco Xavier da Costa e Carlos Cavaco convocam reuniões nas quais se discutem a fundação da Federação Operária do Rio Grande do Sul (FORGS). Esta, na opinião do líder anarquista Polydoro dos Santos (1881-1924), participou da “greve dos 21 dias” apenas como elemento decorativo. Quanto às lideranças, os anarquistas tinham na figura de Polydoro dos Santos um importante líder, defendendo a neutralidade e a independência política dos sindicatos divergindo dos líderes socialistas Francisco Xavier da Costa e Carlos Cavaco. A polêmica se dava por meio do jornal A Luta, fundado em 1906 pelo líder anarquista e pelo gráfico José Rey Gil. Este último havia rompido com os socialistas. A Luta foi um periódico que travou grandes polêmicas com a social-democracia e seus principais veículos: A Democracia (1905-1908), dirigida por Francisco Xavier da Costa e Carlos Cavaco, e O Avante que começou a circular em 1901. Apesar do confronto ideológico, ambas as correntes combatiam as más condições de trabalho, a excessiva carga horária do operário, os baixos salários e os maus tratos sofridos pelos trabalhadores. De acordo com Isabel Bilhão, “ (…) pacto de fidelidade à causa da greve que envolve a todos que dela participam, não interessando se a liderança é anarquista, socialista, sindicalista, interessa sim que, tendo assumido compromisso com a classe, dela não se afaste, sob pena de ser considerado traidor” (BILHÃO, 1999, p. 58). Durante a greve o policiamento foi ostensivo e os piquetes tentavam impedir os chamados “fura-greves”. No dia 9 de outubro, trabalhadores se pronunciaram contrários à proposta da classe patronal de 9h diárias e decidiram que a greve seria mantida. Seguiram-se várias prisões… A classe patronal não se manteve coesa e alguns cederam frente à força dos operários. Não ocorreu consenso sobre os rumos da greve no movimento operário. A greve terminou oficialmente no dia 21 do mesmo mês. Os anarquistas acusavam os socialistas por terem influenciado no encerramento da greve sem que as reivindicações fossem atendidas. Os anarquistas, por meio do jornal A Luta, também, denunciavam que, ao contrário do que o Jornal do Comércio (1865-1911) divulgava, havia perseguições contra os grevistas quando retornavam ao trabalho. A categoria dos marmoristas continuou em greve até a vitória das 8 horas. Na visão do líder Francisco Xavier da Costa, o importante era manter as conquistas alcançadas pelo movimento, como a redução de 10 a 12 horas de trabalho para 9 horas, e o aumento de salário para algumas categorias. No dia 21 de outubro de 1906, o Jornal do Comércio (1864-1911), de Porto Alegre, comenta o final da greve com a seguinte nota: “Vendo que infrutíferos eram seus esforços no sentido de conseguirem as 8 horas, o operariado em boletim ontem profusamente distribuído tornou público que amanhã [ 22/10] voltaria ao trabalho. Dizendo-se socialista, o autor do já citado manifesto recomenda às comissões ‘que procurem manter os companheiros que se acham sob sua influência, a fim de que eles estejam sempre prontos para outro provável movimento de classe’.” O jornalista Francisco Xavier da Costa No ano de 1907, Francisco Xavier da Costa foi chamado de analfabeto por Octávio Rocha (1877-1928), então diretor do jornal A Federação (1884-1937), que era o órgão oficial do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). Diante de atitude tão deselegante, o líder operário, em seu jornal A Democracia (1905-1908), de 20 de agosto de 1907, p.1, pronunciou-se: “Doutor! A quem é analfabeto não confiam a redação de um órgão tão importante [o jornal A Democracia] nem tampouco os colegas da imprensa fazem francos elogios, como fizeram a mim, apesar de ser eu apenas humilde operário. E o Doutor, que é tão erudito, mereceu elogios assim, alguma vez?” No ano de 1895, O jornalista Francisco Xavier da Costa se tornou colaborador no jornal socialista Gazetinha (1891-1900). Seu diretor Octaviano de Oliveira, por criticar de forma contundente o governo positivista de Julio Prates de Castilhos (1860-1903) foi espancado, optando por encerrar a circulação do periódico. No ano de 1900, não assumindo sua posição de esquerda, ele lançou o jornal O Independente (1900-1923). No importante jornal A Democracia, editado entre 1905-1908, Francisco Xavier da Costa ratificou sua liderança política, despontando como representante da classe operária no estado, quando assumiu a liderança nas negociações com o presidente do estado, Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961), durante o movimento grevista de 1906. Ainda naquele ano, surgiu o Clube da Imprensa Operária onde Francisco Xavier da Costa exerceu o cargo de 1º secretário. Este Clube contribuiu para o fortalecimento e legitimação da imprensa operária. O líder operário Francisco Xavier da Costa atuou também nos jornais O Avante, fundado em 1901, Echo do Povo (1908-1914) e Gazeta do Povo (1915-1923). Nesse período, a disputa pela liderança do movimento operário, entre anarquistas e socialistas, estava presente nas páginas dos periódicos. Alguns importantes periódicos, como A Democracia, fazem parte da hemeroteca do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, que tem como missão guardar, preservar e difundir a memória da comunicação no Rio Grande do Sul. Neste ano de 2016, no dia 10 de setembro, esta importante instituição completará 42 anos de importantes serviços prestados junto à comunidade cultural do nosso estado. A presença de periódicos operários, em arquivos da Europa, representa o que o pesquisador e jornalista João Batista Marçal chama de “visão conservacionista”: “Os anarquistas, que foram pioneiros na organização do movimento operário no sul do Brasil e que em sua grande maioria eram oriundos de países europeus como Espanha e Itália, tinham isso como hábito: qualquer publicação que fosse feita aqui tinha um exemplar enviado para a Europa.” A adesão ao Partido Republicano Rio-Grandense Os conflitos e trocas de acusações constantes com as lideranças libertárias da Federação Operária do Rio Grande do Sul (FORGS) fizeram com que Francisco Xavier da Costa se afastasse do maior órgão representativo do operariado rio-grandense. Em torno de 1911, a figura de Xavier da Costa passou a ser vinculada ao Partido Republicano Rio-grandense (PRR), que trazia em seu programa, de acordo com positivismo científico, inspirado em Augusto Comte (1798-1857), a inclusão da classe operária conforme o dístico “Ordem e Progresso”. A Constituição Estadual de 1891, de inspiração positivista, trazia vários artigos acerca da regulamentação do trabalho e garantias dos direitos do cidadão e da ordem (PETERSEN, 2001). No ano de 1912, Francisco Xavier da Costa fez parte da nominata dos candidatos oficiais do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) ao Conselho Municipal de Porto Alegre, tendo sido o primeiro negro eleito para a essa função legislativa. O cargo era uma espécie de vereador à época e Francisco Xavier da Costa obteve 4.337 votos. A eleição de Francisco Xavier da Costa como conselheiro municipal de Porto Alegre, pelo Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), resultou em críticas nos jornais da imprensa operária de Porto Alegre, principalmente por parte das correntes anarquistas da Federação Operária do Rio Grande do Sul (FORGS). Reeleito, em 1916, conquistou 6.032 votos. Após dois quatriênios distante das atividades do Legislativo de Porto Alegre, é novamente eleito em 1928, atingindo 7.421 votos. Durante as greves de 1917 e 1918, o presidente do estado atuou de forma decisiva, tomando medidas objetivas e as colocando em prática. Conforme mensagem enviada à Alergs, Antônio Augusto Borges de Medeiros, no 20 de setembro de 1917, declarou: “Por ocasião da greve nesta capital verifiquei a necessidade imediata de suspender a exportação do trigo e fiscalizar as exportações e o consumo de outros gêneros alimentícios de modo a ficar habilitado a prover com segurança sempre que for mister. A par dessas medidas, aumentei os salários dos proletários ao serviço do Estado e por uma ação harmônica e solidária com o governo municipal e com o comércio e indústrias, nesse e noutros pontos, restabeleceu-se a tranquilidade geral e uma satisfatória situação para as classes trabalhadoras.” No jornal O Inflexível, de 1918, fundado por Francisco Xavier da Costa, ele acrescentou o subtítulo “Diário Republicano”, demonstrando, assim, a sua sintonia política à orientação partidária dos republicanos no Rio Grande do Sul. Com destacada atuação no campo político e profissional, ele trabalhou como litógrafo na famosa Livraria do Globo até os últimos dias de sua existência. Considerado um homem de caráter exemplar, Francisco Xavier da Costa, ao falecer, no dia 11 de maio de 1934, deixou a sua esposa Leopoldina e quatro filhas: Emilia Carlota, Amanda Olícia, Francisca Leopoldina e Anita; e dois varões: Carlos Silvio e Miguel Francisco. A trajetória de Francisco Xavier da Costa foi pontuada pela dedicação e amor ao trabalho e intensa militância política pela causa operária. Francisco Xavier da Costa é nome de uma rua, no Bairro Ipanema, na zona sul de Porto Alegre. Memória recuperada O historiador Benito Bisso Schmidt, ao construir a biografia de Francisco Xavier Ferreira durante a elaboração de sua tese, já citada no texto, contou com a colaboração da filha do biografado – Anita Xavier da Costa – que narrou fatos importantíssimos durante entrevista realizada pelo historiador. Preocupada com a perpetuação da memória de seu pai, Anita doou importantes documentos, como afirmou o historiador: “Depois, temendo não encontrar herdeiros para essa memória, doou-me fotografias, jornais, papéis e objetos de seu pai, um verdadeiro relicário de lembranças e afetos.” Consciente do valioso material, o historiador passou a guarda e a preservação deste tesouro para o Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, onde recebeu tratamento arquivístico e museológico, da melhor qualidade, graças a um grupo de funcionários abnegados, competentes e qualificados no exercício de suas funções. Atualmente, este precioso material está disponibilizado a todos que queiram mergulhar na história da vida desse afrodescendente que a historiografia oficial negligenciou, por muito tempo, em trazê-lo a público e graças ao excelente trabalho de pesquisa está memória permanece viva! Por Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite

O guardião do espaço...

O guardião do espaço...
No meu local de trabalho num dos raros momentos de calmaria. O clik é do companheiro Claudionor Santana

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Jornalista e escritor, com passagens por jornais como Última Hora, Jornal do Commercio, O Dia e O Globo, atualmente sou Assessor de Comunicação do Sintergia (Sindicato que representa os trabalhadores do Setor Elétrico do Rio de Janeiro).