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sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Márcia, muito além daqui

As recentes discussões sobre o fim da CPMF, o aumento da CSSL e a crise no Quênia não fazem parte do mundo misterioso de Márcia. Aparentemente, ela tem uma fixação inexplicável pelo fogo. Faça sol ou faça frio, ela sempre está juntando folhas, restos de papel ou papelão e fazendo uma fogueira de significado sutilmente indecifrável.
Praticamente invisível, Márcia só é notada quando aborda algum passante pedindo um cigarro. A concessão ou recusa não provocam qualquer mudança em sua fisionomia. Quando atendida, ela acende automaticamente o cigarro e sai dando suas baforadas até encontrar um lugar onde fica de cócoras por horas e horas, quase imóvel, a não ser pelos repetidos gestos de levar o cigarro obtido com algum passante até a boca.
Faça frio ou calor, Márcia sempre está vestida com um shortinho de menino e uma camiseta. E dia após dia repete a rotina do invisível ser que só é notado quando pede um cigarro a alguém. Até hoje não sei se Márcia come, onde come e quem lhe fornece comida. Às vezes, num rompante, ela dispara uma série de grunhidos inintelegíveis falando sabe-se lá com quem.
Em diversas ocasiões tentei encontrar o olhar de Márcia, mas ela tem uma incrível habilidade em evitar o olhar de quem quer que seja. Ela mira, sempre, o horizonte.
Até que um dia Márcia foi tomada de um rompante de violência e saiu danificando os carros estacionados na rua. Quebrou o retrovisor de um. Amassou a lataria de outro. Arranhou a pintura de um zerinho. Foi um escarcéu porque ninguém sabia o que fazer, até porque Márcia já fazia parte do inconsciente de todos nós. Ela estava lá. Quase invisível mas estava lá. Até que alguém conseguiu interná-la numa instituição onde ficou por meses.
Perto do Natal, Márcia voltou. E permanece a mesma. Parada por horas, abordando os passantes à procura de um cigarro e, felizmente, sem rompantes de violência.
No Natal, resolvi tentar me aproximar de Márcia. Coloquei duas rabanadas deliciosas num pratinho e entreguei-o a Márcia (não ousei incluir um garfo ou colher). Ela aceitou-o, virou-me as costas e foi pro seu cantinho. Esperei um tempo, depois desisti e fui pra casa.
Dias depois, passei e lá estava Márcia. Ela só me pediu cigarro uma vez e nunca mais me abordou. Mas nesse dia, se aproximou de mim, com o pratinho que eu lhe entregara vazio em uma das mãos e um galho de uma planta desconhecida na outra. Entregou-me o galho e se foi.
Todo dia quando passo, vejo que Márcia mantém o prato que lhe dei como um troféu, mas nunca mais me abordou. Ela continua lá cumprindo a sua rotina de nos mostrar que somos quase nada sem a nossa consciência humana de solidariedade e convivência em sociedade. Sem objetivos. Querendo, como Márcia, apenas uma coisa. Alguns, dinheiro. Outros, sexo. Outros, ainda, poder. Mas, felizmente, a grande maioria ainda quer viver. Em toda sua amplitude. Superando os maus momentos. E usufruindo dos bons. Mas, principalmente, interagindo com os seres à nossa volta. Procurando uma convivência que dê sentido às nossas vidas.

4 comentários:

Unknown disse...

Ola Agricola!

Sinceramente gosto muito do seu estilo de escrever e do modo como voce desenvolve as suas ideias.
Concordo com tudo a respeito da Marcia, achando que ela nao e a representacao de apenas uma pessoa qualquer e desconhecida.
Pra mim ela representa a expressao da realidade que fingimos nao enchergar,mas que esta em volta de nos o tempo todo e em todas a ruas, vilas,cidades,lares,igrejas,governos
(por sinal temos uma muito famosa la em Brasilia)etc.
Marcia esta muito alem daqui, na realidade ela ja esta globalizada.
Abracos e ate a proxima amigao.

Unknown disse...

Ola Agricola!

Sinceramente gosto muito do seu estilo de escrever e do modo como voce desenvolve as suas ideias.
Concordo com tudo a respeito da Marcia, achando que ela nao e a representacao de apenas uma pessoa qualquer e desconhecida.
Pra mim ela representa a expressao da realidade que fingimos nao enchergar,mas que esta em volta de nos o tempo todo e em todas a ruas, vilas,cidades,lares,igrejas,governos
(por sinal temos uma muito famosa la em Brasilia)etc.
Marcia esta muito alem daqui, na realidade ela ja esta globalizada.
Abracos e ate a proxima amigao.

Unknown disse...

Ola Agricola!

Sinceramente gosto muito do seu estilo de escrever e do modo como voce desenvolve as suas ideias.
Concordo com tudo a respeito da Marcia, achando que ela nao e a representacao de apenas uma pessoa qualquer e desconhecida.
Pra mim ela representa a expressao da realidade que fingimos nao enchergar,mas que esta em volta de nos o tempo todo e em todas a ruas, vilas,cidades,lares,igrejas,governos
(por sinal temos uma muito famosa la em Brasilia)etc.
Marcia esta muito alem daqui, na realidade ela ja esta globalizada.
Abracos e ate a proxima amigao.

Unknown disse...

Ola Agricola!

Sinceramente gosto muito do seu estilo de escrever e do modo como voce desenvolve as suas ideias.
Concordo com tudo a respeito da Marcia, achando que ela nao e a representacao de apenas uma pessoa qualquer e desconhecida.
Pra mim ela representa a expressao da realidade que fingimos nao enchergar,mas que esta em volta de nos o tempo todo e em todas a ruas, vilas,cidades,lares,igrejas,governos
(por sinal temos uma muito famosa la em Brasilia)etc.
Marcia esta muito alem daqui, na realidade ela ja esta globalizada.
Abracos e ate a proxima amigao.

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No meu local de trabalho num dos raros momentos de calmaria. O clik é do companheiro Claudionor Santana

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Jornalista e escritor, com passagens por jornais como Última Hora, Jornal do Commercio, O Dia e O Globo, atualmente sou Assessor de Comunicação do Sintergia (Sindicato que representa os trabalhadores do Setor Elétrico do Rio de Janeiro).