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quarta-feira, 25 de julho de 2007

Um menino, uma pistola e minha insignificância...

Tenho um colega de trabalho que mora numa comunidade carente (eufemismo para favela)... Dia desses fui visitá-lo (ele garantiu que o local era calmo). Na entrada, perguntei pela rua em que ele morava e informação recolhida, dirigi-me a passos largos para lá. De repente, ao dobrar uma esquina, dei de cara com dois caras portando armas poderosas (desculpem a ignorância mas não sei distingüir fuzil de metralhadora nem esta de AR 15) e fiquei entre chocado, espantado e abobalhado com o porte de um deles, que tinha cerca de 12 anos, magro, raquítico e empunhava a arma na mão direita, uma garrafa de Coca na outra ao mesmo tempo em que fazia embaixadas com uma bola oficial de Penalty. De repente, perdeu o controle da bola que veio em minha direção (a rua é em declive). Eu na minha ia deixar passar quando ouvi a voz de criança: "Pega aí, tio". Travei a bola, fiz duas embaixadinhas (eu sou do ramo) e devolvi a bola com um certo efeito pra sacanear o cara. Não deu outra, quando ele tentou dominar, a bola escapou-lhe e a criança falou mais alto. Deixou de lado a arma, correu atrás da bola, dominou-a, fez duas embaixadinhas também e mandou pra mim, com mais efeito ainda. Já disse que sou do ramo e não dei mole. Matei a bola, fiz diversas embaixadinhas e devolvi-lhe a bola, dessa vez com açúcar e com afeto. O moleque riu e perguntou: "Vai pra onde?". Dei o endereço e ele disse: "É longe paca!" Ato contínuo, ordenou a um motoboy que passava pelo local: "Leva o coroa na casa de fulano e vai devagar que o cara é maneiro!" Eu ganhara um amigo. Quando eu montei na moto, ele se despediu assim: "Qualquer problema, diz que tá com o Teco"... Ao me afastar, vi que ele havia retomado a arma. O menino se fora, voltara o traficante e pensei que esse menino só quer jogar bola, mas que nossa sociedade doente deu-lhe como alternativa de sobrevivência uma AR 15 (ou sei lá que nome tinha aquela enorme arma de poder letal). Nunca mais voltei à favela, onde sou amigo do Teco, que resgatou em mim, por segundos, o menino que um dia fui.

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O guardião do espaço...

O guardião do espaço...
No meu local de trabalho num dos raros momentos de calmaria. O clik é do companheiro Claudionor Santana

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Jornalista e escritor, com passagens por jornais como Última Hora, Jornal do Commercio, O Dia e O Globo, atualmente sou Assessor de Comunicação do Sintergia (Sindicato que representa os trabalhadores do Setor Elétrico do Rio de Janeiro).