
Avenida Rio Branco, Centro do Rio de Janeiro, 17h55min de uma sexta-feira qualquer.
Era mais uma daquelas passeatas intermináveis reivindicando o que a gente nem tem idéia, tornando o trânsito da cidade ainda mais caótico e enervando quem queria somente ir pra casa depois de um dia de trabalho.
De repente, saído não se sabe de onde, um bêbado trajando um terno em frangalhos postou-se à frente da passeata, desfilando com passos trôpegos e fazendo um discurso totalmente sem sentido em que se juntavam críticas à polícia, aos políticos e à própria passeata, que eram arrematados pelo canto em voz altíssima de um velho samba de Paulinho da Viola: "Se um dia/Meu coração for consultado..."
Os passantes riam enquanto os integrantes da passeata tentavam em vão tirar o bêbado do caminho numa cena ao mesmo tempo cômica e grotesca numa luta que parecia não ter fim.
Foi quando uma senhora que tentava contornar a passeata tropeçou no bêbado (que oscilava à esquerda e à direita como um pêndulo) e caiu.
Totalmente descontrolado, um homem empurrou o bêbado, culpando-o, enquanto outro levantava a senhora... mas o bêbado recuperou-se do empurrão, voltou à cena e tirou no bolso do paletó uma rosa amassada mas com algumas pétalas ainda mostrando o seu vermelho, entregando-a à senhora que, entre incrédula e admirada, aceitou-a com um sorriso.
Eu não tinha mais tempo para ver no que aquilo tudo ia dar. Mas fui embora com a convicção de que sempre cabe um gesto de gentileza, seja qual for a situação.
Entre tantos de nós, preocupados com os nossos compromissos ou com a volta para casa, ou mesmo entre os que protestavam por um mundo melhor, foi preciso aparecer um bêbado para mostrar a força de uma rosa, que resgatou não de seu bolso, mas do fundo do seu coração.
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