Os versos precisos, a fina ironia e a criatividade incomparável do poeta Carlos Drummond de Andrade nos deixaram há exatos 20 anos, em 17 de agosto de 1987. Mineiro de Itabira, nasceu em 31 de outubro de 1902, mas viveu a maior parte da sua vida no Rio de Janeiro, onde chegou em 1934, como funcionário público transferido de Minas. Pois é, Drummond teve de conciliar a literatura com a labuta diária porque no Brasil poucos escritores sobrevivem somente de literatura. Tudo que pode ser dito já o foi a respeito de Drummond, por isso deixo nesse espaço um dos inúmeros poemas imortais que nos legou. Esse, é o meu preferido:
Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Os versos acima foram publicados originalmente no livro "Sentimento do Mundo", Irmãos Pongetti - Rio de Janeiro, 1940. Foram extraídos do livro "Nova Reunião", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1985, pág. 78.
Espaço para discutir ética, política e vida! O Conspiração Democrática continua antenado para discutir o Brasil e o mundo. Aqui são permitidas postagens para que outras pessoas possam emitir suas opiniões. Definitivamente, todo e qualquer espaço que surja como alternativa ao que se publica hoje na mídia brasileira é válido. Entre, a casa é sua. E o espaço é nosso. Comente, concorde, discorde, dê uma outra opinião. Afinal, democracia se constrói no dia-a-dia.
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No meu local de trabalho num dos raros momentos de calmaria. O clik é do companheiro Claudionor Santana
Quem sou eu

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- Rio de Janeiro, RJ, Brazil
- Jornalista e escritor, com passagens por jornais como Última Hora, Jornal do Commercio, O Dia e O Globo, atualmente sou Assessor de Comunicação do Sintergia (Sindicato que representa os trabalhadores do Setor Elétrico do Rio de Janeiro).
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